terça-feira, 13 de agosto de 2013

Desabafo de uma professora cidadã

Ontem ao chegar à escola que leciono fui recebida, na sala dos professores, com críticas e cobranças por ter optado em dar as aulas do dia aos alunos que haviam ido para a escola. Ainda tentei explicar o que me motivava, mas percebi que não adiantava argumentar. No entanto o mal-estar ficou em mim e depois de muito refletir resolvi escrever este texto e divulgá-lo para que possa ser criticada e refletir em conjunto com amigos e colegas de profissão.

Estudei no Pedro II, fiz minha graduação na UFRJ e passei por inúmeras greves quando era aluna e sei do impacto dessas greves na minha formação. Em uma das mais longas, a paralisação dos professores da UFRJ que durou quase cinco meses no final do governo FHC, fez com que os alunos perdessem o semestre, mas mesmo assim, nós alunos da graduação, apoiamos o movimento, mesmo ele não tendo sido estendido para os programas de pós-graduação. Lembro que a imprensa nem sequer mencionava a greve e as reivindicações dos professores. Enviei uma carta ao Globo apoiando e questionando a ausência do fato no jornal, e eles pelo menos publicaram alguns trechos da carta, mas  nenhuma discussão foi colocada em pauta. A greve acabou, os professores não tiveram suas reivindicações atendidas, tiveram descontos em seus salários e voltamos todos para a sala de aula com uma grande sensação de derrota.

Claro que sou a favor do movimento dos professores. Sei exatamente o quanto somos desvalorizados financeira e moralmente. Concordo com a necessidade de melhorias salariais; com o direito de 1/3 do nosso tempo para planejamento a ser realizado em casa e não obrigados a permanecer na escola; concordo com a necessidade de melhorias nas condições físicas e de infra-estruturas nas escolas públicas, pois estamos há anos luz do que seria adequado; e defendo a melhoria do programa de premiação por meritocracia.

Mas não concordo com o pensamento de que a única forma de reivindicarmos nossos direitos é a paralisação das aulas. Há pelo menos vinte anos vejo o movimento dos professores lutando por melhorias através de paralisações e, sinceramente, não podemos dizer que esta estratégia venha dando bons resultados. Pelo contrário até, penso que tal atitude desvaloriza o nosso trabalho e nos coloca contra a sociedade. Tenho certeza que temos outras maneiras de reivindicar através de ações que serão mais impactantes aos gestores e políticos e menos aos nossos alunos.

Penso que não podemos ver nosso trabalho como uma prestação de serviço qualquer. Trabalhamos com educação, com a formação de pessoas e o tempo perdido não será recuperado e assim formaremos pessoas com alta defasagem de aprendizado e conteúdo. Assim, deixar de dar aulas faz com que abandonemos as nossas responsabilidades.

Penso também que estou errada em tomar uma atitude individual, pois a categoria decidiu em assembleia a paralisação, mas vou confessar, esse sindicato não me representa. Sou obrigada a pagar um dia de meu salário como taxa de adesão/permanência, sei lá o quê, mas não me vejo representada ali. Vejo um sindicato que se posiciona com ideologias político-partidárias e que não reconhece as melhorias reais conquistadas, radicalizando sempre em suas posturas e negociações.

É preciso também assumir que a sociedade abandonou a educação e falo isso não pensando  apenas nos políticos e gestores da área. Fala isso não apenas me referindo as famílias carentes que não conseguem nem dimensionar o quanto o estudo pode melhorar o futuro de seus filhos. Fala isso não apenas em relação à escola pública, mas, sobretudo, à escola particular. Conheço casos de escolas caríssimas onde os pais delegam a responsabilidade dos estudos de seus filhos para os professores. E essas crianças, apesar de ricas e bem vestidas são no fundo crianças abandonadas na escola, que não tem pai e mãe presentes, que o professor é tratado como um funcionário da família e quando ocorre algo fora do desejado, elas reclamam e cobram na direção da escola a mudança do professor, que é aceita pela escola, pois a instituição não pode perder aquela mensalidade.

Precisamos definitivamente rever o que vamos fazer com a educação. Penso que o modelo de educação atual precisa se atualizar. Temos professores que ainda não perceberam o quanto é importante motivar e modernizar o ensino e não apenas oprimir e mandar o aluno ouvir, decorar e calar-se. No fundo precisamos de uma revolução, mas não sei como fazê-la.   

Não quero que meus colegas aceitem ou entendam a minha opinião, apenas peço que a respeitem, pois eu também tenho o direito de não parar.



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